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A realidade da crise: Wealth, Poverty, and Credit

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Se pensa que os últimos 365 dias foram maus, saiba porque o pior ainda esta para vir.

A crise, de que agora tanto se fala, entra paulatinamente no seu terceiro ano, e apesar das múltiplas intervenções dos vários governos, parece ser agora mais grave que nunca. O mundo aguarda que a solução venha dos Estados Unidos atendendo a que foi nos Estados Unidos que foi criado e deles receberam o problema.

De acordo com a Bloomberg o governo americano já dedicou 9.7 triliões de dólares a esta crise 1 trilião em estímulos, 3 triliões em empréstimos ou simplesmente gastos em recuperações do sistema financeiro, 5 triliões prometidos em acordos de ajuda. Este montante global, que por si já não quer dizer muito (os números agora são maiores) ainda assim representa a capitalização das empresas cotadas no New York Stock Exchange.

Sem dúvida um montante importante mas, infelizmente, uma parte ínfima do problema de liquidez que se vive actualmente. De acordo com o BIS (Bank of International Settlement), o montante total de derivados no mundo é de 680 triliões de dólares, o que obriga o mundo a viver numa pirâmide invertida de liquidez, como se pode ver no gráfico seguinte, o que coloca o mundo numa situação periclitante.

The Inverted Pyramid of global liquidity

A base desta pirâmide (amarelo e magenta) representa o dinheiro existente ou, melhor dizendo, a liquidez em circulação. A seguir o verde e o vermelho representam a dívida. Como se pode constatar, uma situação deste tipo não se pode prolongar no tempo, logo não tem sustentação.

Visto assim, esta dívida não parece muito real porque em substância ela não pode ser paga nem os rendimentos nem os cash flows são suficientes para garantir o serviço da dívida. Eventualmente os cash flows até podem ser suficientes para o serviço da dívida mas o principal que é a própria dívida, nunca vai ser paga.

A solução para este tipo de problema não pode ser o aumento da própria divida. A solução conhecida para situações deste tipo é a sua reestruturação. Neste caso, como nos outros de micro economia, o que é preciso é transformar divida em capital, de forma a inverter a pirâmide fazendo aumentar os activos e baixar o serviço da divida.

A solução utilizada de incentivar os bancos a cumprir com a sua função de olear a economia não terá nunca efeitos positivos, como facilmente se poderá depreender do gráfico seguinte também da Bloomberg.

Banks: Market Cap

Os bancos, para poderem emprestar dinheiro, precisam de ter um balanço adequado. Com a descida do valor dos capitais próprios e a subida dos requisitos de capital, os bancos ficam incapazes de cumprir a sua função. Como se pode ver neste gráfico a capitalização bolsista dos bancos tem encolhido dramaticamente fazendo com que lhes seja impossível emprestar como o faziam antes da crise.

É portanto evidente que a prioridade não é a necessidade de mais legislação, regulação ou supervisão. Qualquer medida deste tipo só pode ter efeitos depois de a crise estar ultrapassada e só nesse momento se justificaria. Não sem que primeiro se proceda a uma ‘’nacionalização’’parcial da banca a nível mundial, por diluição dos actuais accionistas, com a entrada dos capitais necessários, porque só os governos podem, neste momento, garantir algum grau de estabilidade e sobretudo de segurança.

A bolha do imobiliário, a bolha do crédito e a crise financeira são partes do problema que, adicionado ao problema da segurança social, acabará por inviabilizar o sistema tornando-o insolvente. Como as responsabilidades das pensões são essencialmente responsabilidades futuras, as responsabilidades actuais são calculadas aplicando uma taxa de desconto ao que será devido no futuro. Com as taxas de juro a caminhar para 0, todo o sistema de pensões precisa de mais dinheiro para assumir as mesmas responsabilidades futuras. O princípio é simples. É preciso poupar em dobro se temos uma expectativa de 5% de valorização sobre o investimento para um montante futuro do que pouparíamos quando se tinha uma taxa de crescimento de 10%.

É em função destes dados que é necessário criar um modelo que permita não só garantir a valorização dos activos, mas também as responsabilidades futuras das reformas e da segurança social. A conjugação da desvalorização de activos, com a queda das taxas de juro e uma recessão, são a garantia de uma situação insustentável para qualquer estado social.

Por: Paulo Pinto, CEO e gestor de carteiras na DIF Broker, esta no mercado de capitais desde 1985. Fundador e Vice-Presidente da ATM, é o co-autor do livro "Análise Técnica - uma ferramenta fundamental", publicado pela Euronext. É o patriarca da Análise Técnica em Portugal e um grande promotor da sua divulgação. É ainda consultor de bancos à área de Futuros.


Last Updated on Friday, 06 May 2011 22:03  

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